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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Tropeirismo*

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Jean Debré
A profissão mais antiga do Brasil
Dia 26 de abril é o Dia do Tropeiro no Estado de Santa Catarina. Foi a data da morte, em 1733, do padre Cristóbal de Mendonza e Orelhana, primeiro tropeiro brasileiro vindo do pampa argentino, em 1732, com destino no Rio Grande do Sul, chegando em Santa Catarina no ano seguinte. 
Durante 250 anos os tropeiros foram responsáveis por toda a comercialização e transportes de produtos e informações no Brasil. Uma justa homenagem.
A palavra "tropeiro" deriva de tropa, numa referência ao conjunto de homens que transportavam gado e mercadoria no Brasil colônia. O termo tem sido usado para designar principalmente o transporte de gado da região do Rio Grande do Sul até os mercados de Minas Gerais, posteriormente São Paulo e Rio de Janeiro, porém há quem use o termo em momentos anteriores davida colonial, como no "ciclo do açúcar" entre os séculos XVI e XVII, quando várias regiões do interior nordestino se dedicaram a criação de animais para comercialização com os senhores de engenho.
Ao longo do tempo os principais pousos se transformaram em povoações e vilas. É interessante notar que dezenas de cidades do interior na região sul do Brasil e mesmo em São Paulo, atribuem sua origem a atividade dos tropeiros.
O comércio de animais foi fator determinante para integrar efetivamente o sul ao restante do Brasil, apesar das diferenças culturais entre as regiões da colônia, os interesses mercantis foram responsáveis por essa fusão e indiretamente, pela prosperidade tanto da grande propriedade estancieira dos estados do sul, como de pequenas propriedades familiares, em regiões onde predominaram populações de origem européia e que abasteciam de alimentos as fazendas pecuaristas.
Uma vida de tropeiro

Eles viajavam grandes distâncias, durante semanas seguidas, conduzindo gigantescas tropas de gado. Os veículos não eram caminhões-boiadeiros, mas pequenas mulas, que cumpriam com valentia o trabalho. A saudade de casa, a falta de notícias da família, o sofrimento físico no caminho. Tudo fez parte da vida dos tropeiros, homens que se arriscavam para impulsionar o desenvolvimento do Brasil.

Em Santa Catarina, as homenagens a estes heróis viraram a lei de número 13.890, do ano passado, que estabelece o dia 26 de abril, no caso, hoje, como o Dia do Tropeirismo.

Vivendo atualmente na localidade de Monte Alegre, em São Joaquim, na Serra Catarinense, Vidal Cândido da Silva Neto, 78 anos, é um dos homenageados. O mais velho entre 10 irmãos, ele concluiu o antigo ginasial na escola e voltou para a fazenda, onde vivia com a família. Em 1953, sua mãe morreu, a situação ficou difícil, e ele, com 25 anos, precisou ajudar ainda mais.

Os irmãos saíram para estudar, e Vidal continuou no campo. Foi quando virou tropeiro. As primeiras viagens foram longas. Com mais cinco cavaleiros, comprava gado na região de Cruz Alta (RS) e levava até São Joaquim.

Numa destas lidas, conduziu 512 cabeças. A dificuldade era maior quando os animais paravam para beber água nos riachos ou, então, quando se perdiam, e Vidal e seus companheiros eram obrigados a procurá-los na mata.

Vidal não lembra detalhes da viagem mais longa. Diz apenas que saiu de São Joaquim com 30 touros e foi até Guarapuava (PR), de onde voltou, após bons negócios, com 260 bois.

Ele recorda da tensão na descida da Serra do Rio do Rastro, quando muitos animais rolavam montanha abaixo. Alguns eram resgatados; outros, jamais encontrados. O joaquinense guarda uma passagem por Vacaria (RS), quando uma grande nevasca surpreendeu a tropa, e, isolado, dormiu sobre a montaria da mula.

Às vezes faltava comida. A chuva, o vento e o frio eram companhia da maioria das viagens. No entanto, Vidal nunca pensou em desistir e, hoje, orgulha-se do que fez até os 60 anos.

Ficou a saudade das viagens, da receptividade dos moradores e, principalmente, dos amigos - todos falecidos, mas que conservam, em suas famílias, a história de uma nação.

Hoje, vive em sua fazenda, a Fazenda Ipê, onde recebe hóspedes em sua pousada.

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